Aqui no Brasil estamos acostumados a um jornalismo que não se posiciona oficialmente na política. Época eleitoral, como estamos atualmente, a grande imprensa não dá seu parecer político, ou seja, não explicita qual partido está apoiando. Oficialmente os jornais não apoiam ninguém, mas o modo em que noticiam cada fato, deixa transparecer sua posição política. Durante as eleições para prefeito é um pouco mais difícil, mas durante as presidenciais fica evidente o lado em que a maioria da grande imprensa está. Essa questão de não se posicionar oficialmente nos traz a dúvida se de fato o repórter está praticando a objetividade jornalística, tão discutida pelos profissionais. O repórter tem uma linha editorial a seguir, e isso o restringe quando se trata da tal objetividade. Todo mundo sabe que os donos do jornal O Globo, por exemplo, apoia o partido "X" e não do gosta do partido "Y". O repórter está ciente deste quadro, logo não irá desagradar seu patrão. Isso acontece em nosso país, e é uma forma diferente de se fazer jornalismo, se comparamos com o jornalismo europeu. Aqui segue-se a teoria americana. Trabalhamos com um lead ou as seis questões fundamentais (o que?, quem?, quando?, onde?, como? e porque?) e tentamos implementar o conceito de objetividade, que, diversas vezes, fica restrito por causa dessa situação citada acima.
Na Europa se adota uma linha jornalística diferente. A escola europeia de fazer jornalismo procura ser mais narrativo, analítico e, principalmente, opinativo. Isso significa que, período eleitoral, cada jornal tem seu partido. Existem até jornais que explicitam suas ideologias, por exemplo temos um jornal comunista na França, chamado L'Humanité. Lá, ao invés, de se embasarem ao conceito de objetividade, procuram sempre a honestidade e lealdade. Duas definições preponderantes, quando se fala de um jornalismo europeu.
O jornalismo praticado nos Estados Unidos inspirou a nossa escola, ou seja, participação fundamental do lead e objetividade. Teoricamente é isso, mas de um tempo para cá isso vem mudando. É o que afirma o colunista do New York Times, Frank Bruni. "O jornalismo americano está cada vez mais europeu. Lá, a norma é que você se alinhe com um movimento ou partido e que os espectadores ou leitores ganhem uma versão da notícia que afirma ou reforça suas opiniões preestabelecidas de acontecimentos", disse o colunista. O que inspirou sua declaração foram as redes de televisão CNN e MSNBC que se posicionaram nas atuais eleições presidenciais. Enquanto a primeira faz campanha para o candidato republicano Romney, a segunda emissora faz uma fiel campanha para reeleição de Obama. As duas emissoras estão sendo as mais assistidas do país durante esse período, ultrapassando a FOX, cada uma com seu público. É por isso que a declaração de Bruni se justifica e faz todo o sentido.
Um conceito bem atual é da web 2.0, criado por uma empresa americana para designar uma segunda geração de informações existentes na internet. Diferente da web 1.0, nessa nova geração não existe uma hierarquização nas informações postadas na internet. Antes escrevia quem tinha uma especialização. Empresas passavam informações para seus funcionários, só para dar um exemplo. Apenas quem tinha o conhecimento da comunicação e domínio na mídia poderia se expor.
A partir de 2004, quando foi criado e infiltrado o conceito do 2.0, isso foi mudando, pouco a pouco. A democratização da internet, tanto na questão de ser mais barata como no fato de ter comandos mais intuitivos, obviamente, fez com que mais pessoas tivessem acesso a ela. Antes restrita, agora de muitos. O espaço online abriu e agora ele é de quase todos. A partir dai, surgem as redes sociais e os blogs, talvez duas das maiores fontes de informação dos escritores onlines. Foi, em poucos anos, da hierarquia para a democracia.
A princípio, esse novo "regime" da internet parece ser bom, pois todos agora podem informar e serem informados com eficiência. Eficiência essa que pode ser bastante discutida. O fato de que todos podem criar uma conta em um blog ou twitter e falar o que bem entender, opiniões ou informações mal apuradas, podem se tornar verdades. Existem blogueiros que não tem interesse algum pela verdade, falam sem responsabilidade. Existiu um caso em que o jogador do santos, Neymar, publicou em seu twitter que o juiz que apitava o jogo de seu time era ladrão. Como lidar com isso? Punir pela irresponsabilidade por ser uma figura pública ou nada fazer? Na ocasião, o atleta teve de pagar R$15.000 para o árbitro por sua irresponsabilidade.
A internet é perigosa, poucos são responsáveis . O que está em blog nem sempre é verdade. Vale relativizar, existem blogueiros que escrevem bem e publicam coisas interessantes. Blogs que fazem jornalismo sério existem. Cabe alertar ao cidadão de que a internet desvinculada a grande imprensa pode não ser séria, logo havendo diversas mentiras.
Há diversos teóricos do jornalismo que afirmam que qualquer tipo de matéria jornalística tem de ser investigativa. Não existe separação entre os termos "jornalismo e investigação", segundo alguns da profissão. É o caso de Bob Fernandes, ex-repórter da Carta Capital. "Como o jornalismo virou uma grande suruba, precisam colocar uma placa dizendo, 'aqui se faz jornalismo investigativo'. No entanto, eu parto do princípio de que jornalismo é investigativo por natureza", afirmou ele. Fora do Brasil, essa opinião também é compartilhada, como no caso do jornalista suíço Lukas Hassig. "Na Suíça não existe esta distinção, se somos jornalistas, somos jornalistas investigativos", disse. De fato, qualquer publicação de cunho jornalístico deve ser minimamente investigativa, pois requer uma boa apuração, ouvir fontes divergente e só depois disso, escrever a matéria. Nesse sentido, há uma certa dose de razão para Bob, mas a definição de jornalismo investigativo é especial e talvez, não deva ser levado ao pé da letra.
Entender que o jornalismo de investigação é obrigado a atender os anseios do bem público é entender quase este conceito por completo. Ser jornalista investigativo significa que suas reportagens serão 100% de interesse público. Ela não pode ser segmentada, não pode atingir os interesses de determinados públicos. A matéria investigativa também requer um estudo enorme sobre o fato em que se vai investigar. É necessário uma coleta enorme de dados, documentos oficiais, fontes acessíveis e lutar pelas inacessíveis, pesquisar a história do tema. Estudo é tempo. Não se faz uma investigação do dia para noite, como acontece no chamado hard news, que seriam as notícias do dia a dia. Requer semanas, meses e algumas vezes anos. Além de necessitar de bom meses, o dinheiro é peça chave também. O custo para realização de uma matéria investigativa é alto, soma-se transportes diversas vezes ao dia, compra do acesso aos documentos e mais algumas situações passadas por cada caso. Não é algo barato.
É possível que a investigação comece com um assunto que instigue o jornalista, que o faça pensar sobre, e desperte a curiosidade para uma investigação. Pode ocorrer também casos em que o profissional receba alguma pista de certa fonte e resolva levar isso adiante. Percebe-se que independente do modo em que ela comece, ela não é uma reportagem comum. Ela deseja denunciar uma injustiça, ou algum fato inexplicável, algo que não "bata". Exemplo claro são os vereadores e deputados tendo mansões e carros importados. Outra coisa que compõe a real reportagem investigativa é o próprio jornalista investigar e apurar, não pegar da polícia e assessoria de imprensa.
O jornalismo investigativo se diferencia também pelo jornalista manter sua pauta oculta, na maioria das vezes, só ele e seu editor podem saber. E esse segredo é levado a sério, pois, se descoberto, pode prejudicar o andamento da matéria. Como todo o jornalismo, o investigativo tem de ter responsabilidade, pois, se não, quem sofrerá as consequências será tanto o contratante, quanto o contratado.
Segue o vídeo do programa CQC, que se usa de um humor crítico e ácido para divertir seu público. Esse é quadro em que eles investigam uma situação calamitosa em alguma cidade, maioria das vezes no interior e trazem o relatório para o poder público da região. Chama-se "Proteste Já" e prova que é possível fazer uma matéria de investigação séria e que seja, ao mesmo tempo, mais suave e leve.
Quem conhece a profissão de jornalista sabe que ela apresenta riscos para o profissional. Apesar de ser uma graduação dentro das ciências humanas, muitas vezes ela se compara mais com policiais e detetives do que propriamente um sociólogo, apenas para citar um exemplo. Para se tornar um bom jornalista, o esforço tem que ser a palavra chave. A profissão requer 90% transpiração e 10% inspiração, segundo diversos jornalistas. Tem de se ir atrás de fontes perigosas, visitar lugares hostis, ter acesso restrito em alguns pontos e algumas outras dificuldades. A persistência e a vontade de zelar pelo bem público devem ser enormes para se fazer bom jornalismo. As características citadas tem de estar ainda mais presente quando se é um jornalista investigativo. Mas até onde o risco é válido para trazer uma boa reportagem, com boa apuração e informações de interesse público e do público? Não é um questão exata, que temos uma fórmula e que ela se aplica a todos os casos jornalísticos. Não, isso não existe. Há de se relativizar cada ocasião. O caso mais famoso de jornalista morto em uma investigação foi Tim Lopes. Repórter da TV Globo, Tim estava na favela, se passando por um cidadão comum no morro do Alemão, e durante o baile funk queria, com uma microcâmera, gravar menores de idade sendo abusados por traficantes e jovens vendendo drogas. Como já era uma figura relativamente conhecida, foi torturado em morto em 2002. Obviamente, faltou prudência a Tim quando ele resolve ir à favela sendo um jornalista conhecido por denunciar traficantes, tanto é verdade, que foi assim que ganhou seu prêmio Esso. Muito provavelmente, ele estava se sentindo acima do bem e do mal, estava em seu auge investigativo, achou que ninguém o pudesse descobrir naquele meio. Se enganou. Parafraseando sua companheira de produção do jornalismo investigativo, Cristina Guimarães "É muita ingenuidade achar que traficante não assiste TV e não lê jornal". Se não fosse naquele 2 de junho de 2002, talvez fosse em outra data, pois ele não estava medindo corretamente o valor de sua vida, apenas queria provar a corrupção que acontecia no Rio de Janeiro, embaixo do nosso nariz. Sua indignação falava mais alto. Não adianta o jornalista ter muito medo de levar a diante uma matéria investigativa, mas também não dá para ele se esquecer que, diversas vezes, as situações trazem risco de morte. Tem de se relativizar cada situação, medir se isso, de fato, vai trazer chances reais de um incidente. Se sim, não trabalhar essa pauta. Último caso foi o cinegrafista da Band, Gelson Domingos, que morreu baleado durante uma operação da Polícia Militar em uma favela na zona oeste do Rio. Este caso foi bem diferente do de Tim Lopes, foi culpa tanto dele como da PM. Segue o vídeo do programa Fantástico para ilustrar o ocorrido.
Conhecer a real função do jornalista é fundamental quando se escolhe a profissão para o resto da vida. Deve-se ter a noção que o jornalista tem de trabalhar em defesa do público, tentando noticiar o que se passa, em diversos setores da sociedade. Ele deve ser, em grande parte, independente ao seu contratante. O zelo pelo bem público é a chave para entender o papel do jornalista. Na assessoria de imprensa isso não ocorre.
Desde que foi inventada a profissão de assessor de imprensa, seu dever nunca foi defender o interesse público acima do privado. Acontece o inverso, pois este trabalho pede que o profissional atenda as necessidades da sua empresa, e que a defenda sempre. Além disso, divulgar novidades, oportunidades, explicar o funcionamento. Tem de se trabalhar, sempre, ajudando seu contratante. Nesse sentido o assessor não é jornalista. A confusão pode vir pelo das duas profissões terem de comunicar algo, tanto os assessores como os jornalistas precisam passar informações. Isso pode vir através da escrita e da fala. O assessor de imprensa, usualmente, é graduado em jornalismo, mas não exerce a profissão. As semelhanças param por aí, os papéis são distintos.
Ambas as profissões são dignas e requerem suas dificuldades. Há casos em que o profissional começa como jornalista e termina como assessor. O jornalismo requer mais riscos, é uma profissão maçante e mais cansativa, se comparada a assessoria. O jornalista se arrisca, se envolve com meios ilícitos , procura fontes que não querem informar. O assessor tem tarefas menos cansativas, mas não mais fáceis.
Jornalista é aquele que investiga, alguém que trabalhe em uma redação, entenda-se esse conceito como qualquer reunião que defina uma pauta. Aquela realidade vivida em uma redação dá ao cidadão a áurea de jornalista e o faz aprender a profissão.
Um fenômeno que cresce cada vez mais é o chamado jornalismo "fast food". Entenda-se esse conceito como um jornalismo rápido, quase em tempo real, que consegue produzir a notícia em poucos segundos. Esse modo de fazer jornalismo é observado com clareza nos portais, blogs, meios de informações presentes na internet. A comparação com o tipo de comida, o "fast food", é bem válida, pois ambos saem com rapidez, em um primeiro momento sacia o cliente ou leitor mas depois apresenta problemas. Um pedaço de pizza comprado em um lanchonete pode até matar a fome de alguém, mas não supre nutritivamente o corpo de um ser humano. No jornalismo isso se dá de uma mesma forma. Os portais podem até ter a informação e publica-la rapidamente, porém os falta a apuração. Um princípio básico no jornalismo é checar as informações, saber sua veracidade. Tem de se entender que o jornalismo é um segmento que, de certo modo, rege a sociedade e tem uma enorme responsabilidade. Uma notícia falsa, tendenciosa, deturpadora da realidade pode causar estrago em uma população. É preciso ter essa noção e checar sempre antes de publicar. Claro que é preciso ter a noção da demanda que a internet pede, um meio que se tem rápido acesso e que se pode publicar muita coisa com muita rapidez. As coisas vão acontecendo e o meio online vai publicando, mas há um consenso de que se tem de verificar o que é ou não verdade para publicar. Isso dá credibilidade ao meio e o internauta recebe informação de qualidade. Os dois se ajudam.
Há também o conflito de interesses entre o meio de comunicação e o assunto da notícia publicada por esse meio em questão. Para ficar mais claro podemos ilustrar com um exemplo ocorrido no portal do jornal O Globo e da revista Veja, dois órgãos da denominada grande imprensa. Os sites publicaram uma notícia de dez anos atrás, que noticiava uma provável expulsão da rede de "fast food" McDonald's pelo presidente da Bolívia, Evo Moralez. O motivo alegado, uma década atrás, é que a rede não dava lucro algum. Todos sabemos que a grande imprensa, quase em sua totalidade, não quer uma maior aproximação do Brasil com a Venezuela e Bolívia, por acreditar que o regime de seus respectivos presidentes é uma ameaça a democracia. Logo visto alguma coisa que julgaram ser anti-democrática, os dois meios publicaram a notícia sem, ao menos, checar a data em que foi publicada. Há, certamente, um enorme descuido na apuração, uma vontade de publicar primeiro do que o "coleguinha", mas há também a intenção de alfinetar uma situação em que o órgão discorda.