quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Jornalismo investigativo é redundância?

Há diversos teóricos do jornalismo que afirmam que qualquer tipo de matéria jornalística tem de ser investigativa. Não existe separação entre os termos "jornalismo e investigação", segundo alguns da profissão. É o caso de Bob Fernandes, ex-repórter da Carta Capital. "Como o jornalismo virou uma grande suruba, precisam colocar uma placa dizendo, 'aqui se faz jornalismo investigativo'. No entanto, eu parto do princípio de que jornalismo é investigativo por natureza", afirmou ele. Fora do Brasil, essa opinião também é compartilhada, como no caso do jornalista suíço Lukas Hassig. "Na Suíça não existe esta distinção, se somos jornalistas, somos jornalistas investigativos", disse. De fato, qualquer publicação de cunho jornalístico deve ser minimamente investigativa, pois requer uma boa apuração, ouvir fontes divergente e só depois disso, escrever a matéria. Nesse sentido, há uma certa dose de razão para Bob, mas a definição de jornalismo investigativo é especial e talvez, não deva ser levado ao pé da letra.

Entender que o jornalismo de investigação é obrigado a atender os anseios do bem público é entender quase este conceito por completo. Ser jornalista investigativo significa que suas reportagens serão 100% de interesse público. Ela não pode ser segmentada, não pode atingir os interesses de determinados públicos. A matéria investigativa também requer um estudo enorme sobre o fato em que se vai investigar. É necessário uma coleta enorme de dados, documentos oficiais, fontes acessíveis e lutar pelas inacessíveis, pesquisar a história do tema. Estudo é tempo. Não se faz uma investigação do dia para noite, como acontece no chamado hard news, que seriam as notícias do dia a dia. Requer semanas, meses e algumas vezes anos. Além de necessitar de bom meses, o dinheiro é peça chave também. O custo para realização de uma matéria investigativa é alto, soma-se transportes diversas vezes ao dia, compra do acesso aos documentos e mais algumas situações passadas por cada caso. Não é algo barato.

É possível que a investigação comece com um assunto que instigue o jornalista, que o faça pensar sobre, e desperte a curiosidade para uma investigação. Pode ocorrer também casos em que o profissional receba alguma pista de certa fonte e resolva levar isso adiante. Percebe-se que independente do modo em que ela comece, ela não é uma reportagem comum. Ela deseja denunciar uma injustiça, ou algum fato inexplicável, algo que não "bata". Exemplo claro são os vereadores e deputados tendo mansões e carros importados. Outra coisa que compõe a real reportagem investigativa é o próprio jornalista investigar e apurar, não pegar da polícia e assessoria de imprensa. 

O jornalismo investigativo se diferencia também pelo jornalista manter sua pauta oculta, na maioria das vezes, só ele e seu editor podem saber. E esse segredo é levado a sério, pois, se descoberto, pode prejudicar o andamento da matéria. Como todo o jornalismo, o investigativo tem de ter responsabilidade, pois, se não, quem sofrerá as consequências será tanto o contratante, quanto o contratado. 

Segue o vídeo do programa CQC, que se usa de um humor crítico e ácido para divertir seu público. Esse é quadro em que eles investigam uma situação calamitosa em alguma cidade, maioria das vezes no interior e trazem o relatório para o poder público da região. Chama-se "Proteste Já" e prova que é possível fazer uma matéria de investigação séria e que seja, ao mesmo tempo, mais suave e leve.

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